Sou funcionária pública (sou e não sou, é uma cena esquisita, mas isso agora também não interessa nada, quem me paga uma parte do salário é o Estado Português), tenho um salário acima da média, é verdade, mas vivo do outro lado do mundo, num país em vias de desenvolvimento onde não há água canalizada ou rede elétrica. Não desconto para a segurança social, estou isenta, mas também não tenho direito a nada, a não ser a contagem para efeitos de reforma. Venho de lá, fico mais de meio ano à espera que me chamem de novo e não há subsídio de desemprego para ninguém, gasto o que juntei. Para muitos, só por causa disto sou uma puta, ganho bem, não tenho o direito de me queixar, que isso é só para quem ganha o salário mínimo. Curiosamente, muitos desses que me chamam puta, são os que hoje vão ficar em casa, a ver a manifestação pela T.V., ou então vão apanhar uns banhos de sol na praia, que hoje o tempo está mesmo bom é para isso. No entanto, hão-de sempre praguejar que isto está mau, que não há dinheiro, que eles são uns gatunos, que não há como mudar isto e o caralho a sete. Minha gente, reclamar e não agir não adianta! Se com a manifestação se muda alguma coisa? Não sei...pelo menos tento. Pelo menos demonstro o meu descontentamento, pelo menos mostro que estou interessada, que não sou corno manso e não ando a dormir! Eu sou a puta, mas hoje vou à manifestação. Vou por mim. Vou por vós. Vou pelo nosso futuro!