sábado, 12 de novembro de 2011

Há 20 anos atrás...

A minha mãe gritou que o jantar estava na mesa, chamou, chamou e voltou a chamar até que a mesa estivesse completa. Não me lembro da comida, não sei se era carne ou peixe; arroz, massa ou batatas. Lembro-me que a televisão estava ligada. Lembro-me de começar o telejornal e lembro-me de ouvir sirenes. Lembro-me de ver pessoas a fugir de um cemitério, pessoas a atropelarem-se, de ouvir tiros, gritos. Lembro-me de um jovem ferido, que sangrava nos braços de outro. Lembro-me de ouvir rezar Avé Maria.

Tinha 6 anos e ainda brincava com bonecas. Não sabia o que "queria ser quando fosse grande" e muito menos onde era Timor-Leste...

A 12 de Novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.
No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão. Segundo números do Comité 12 de novembro, 2.261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.
A maior parte dos corpos continua em parte incerta.

Faz hoje 20 anos e apesar de ser sábado não há festa em lado nenhum, não há discotecas abertas. Há velas a iluminar as ruas. Houve missa e marcha desde a igreja de Motael até ao cemitério de Santa Cruz. Hoje celebra-se o início do fim. Hoje celebram-se os mortos. Hoje a festa é dos timorenses.

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